Ao contrário do que muitas pessoas imaginam a criatividade não é um dom. Também não é uma qualidade exclusiva de um público seleto. A criatividade é a capacidade de pensar fora do óbvio.
Estamos condicionados a pensar da forma mais eficaz possível, isso, por que, pensar consome muita energia. O cérebro humano representa, aproximadamente, 2% do peso corporal e consome 20% do oxigênio e da glicose que temos em nosso organismo. Dessa forma, para poupar energia, buscamos o caminho mais fácil para encontrar as soluções que buscamos.
A criatividade é uma habilidade única entre os seres humanos. Somos capazes de imaginar diversos cenários e criar respostas antes mesmo que exista, sequer, um problema. Foi essa capacidade cognitiva que nos levou das cavernas a exploração espacial.
Muitas ideias inovadoras foram concebidas a partir da percepção do potencial de revolucionar um determinado cenário. Foi essa expertise que fez o fundador da Apple, Steve Jobs, imaginar como computadores pessoais fariam a diferença na vida das pessoas. Jobs, não criou o iPod, o iPhone e o iPad do absoluto zero, ele percebeu esse potencial entre a tecnologia e a mobilidade ao mesmo tempo e uniu as duas. Isso significa que não precisamos reinventar a roda para sermos criativos, mas sim, que podemos dar novas utilizações para o que já conhecemos.
Como saber se as pessoas vão gostar de algo que ainda não existe? Simples: “Os clientes não sabem o que querem até que alguém lhes mostre”
Steve Jobs
Da mesma maneira surgiu a Uber, quando seus fundadores, Garrett Camp e Travis Kalanick, sintetizaram, em um aplicativo, tecnologias como a do GPS (1995) e a de pagamento via cartão de crédito (1920), alinhadas ao modelo de negócio utilizado nos táxis. Basicamente todas essas soluções já existiam, a grande sacada foi como tudo isso poderia transformar-se em uma plataforma para facilitar o acesso ao transporte. E sabe como isso aconteceu? Quando Camp e Kalanick tentaram apanhar um táxi e não conseguiram. A frustração fez com que eles pensassem em algo que não fosse tão óbvio quanto acenar com a mão para parar um carro.
Outro exemplo é a Nubank, fundada em 2013, por David Vélez, Edward Wible e Cristina Junqueira, a startup brasileira é conhecida pelo alto nível de inovação e disrupção. O grande diferencial da Nubank é a possibilidade de gerenciar operações financeiras exclusivamente por meio de aplicativo, diminuindo o atrito entre cliente e agência, praticamente eliminando a burocracia. É possível abrir uma conta em poucos minutos e tudo pela internet. (Conheça a história da Nubank).
Para desenvolver ideias inovadoras não é necessário um laboratório complexo e nem tecnologias avançadas. A criatividade está presente até mesmo em locais de extrema escassez, como em uma prisão, por exemplo. Os detentos são capazes de realizar invenções combinando objetos das mais variadas formas. É possível criar jogos de tabuleiro com peças moldadas em papel, máquinas de tatuagem e armas artesanais (8 invenções que os detentos improvisam na prisão).
A criatividade exige audácia para correr riscos e coragem para enfrentar o fracasso. Estamos condicionados a sermos eficientes e altamente produtivos. Essas características limitam nossa capacidade criativa, pois acabamos repetindo uma trilha neural que já conhecemos, deixando pouco espaço para pensarmos em algo novo. É por isso que grandes mentes orgulham-se de já terem fracassado, pois precisaram buscar novos caminhos para alcançarem seus objetivos, e, ao saírem da rota lógica, encontraram soluções alternativas, dando origem a uma grande ideia.
“As melhores paisagem jamais se revelam para quem se contenta em percorrer as trilhas mais percorridas”
Allan Costa
Como liberar nosso potencial criativo?
Estimular o cérebro a criar novas sinapses, ou seja, novas conexões entre os neurônios pode ser uma tarefa simples e diária. Existem diversos exercícios mentais para desenvolver o processo criativo. O princípio desses treinamentos mentais é executar tarefas em uma perspectiva diferente. Se você é destro, o simples fato de escovar os dentes ou amarrar os tênis com a mão esquerda faz com que você precise pensar nos movimentos para poder executar essas tarefas.
- Quando você muda a rota que está acostumado a fazer todos os dias para ir ao trabalho precisa ficar mais atento as vias e a sinalização de trânsito. Atividades como música, dança e pintura também são estimulantes, pois trabalham o lado lúdico da nossa imaginação.
- Aprender um novo idioma pode causar uma mudança tão drástica em nosso organismo a ponto de aumentar o volume de substância cinzenta no cérebro de pessoas bilíngues. Cientistas do Centro para o Estudo da Aprendizagem, no Centro Médico da Universidade de Georgetown observaram esse crescimento especialmente no córtex pré-frontal. Esta região do cérebro desempenha um papel fundamental na criatividade humana, como explicou Mia Nacamulli numa palestra Ted-Ed sobre os benefícios do bilinguismo.
Portanto, exercitar o cérebro para sermos mais criativos é uma possibilidade real. Diversos estudos sobre esse tema estão sendo desenvolvidos, inclusive em casos de reabilitação neurológica. Vale lembrar, que, independente da aplicação da criatividade, é inevitável reconhecer que essa habilidade pode nos beneficiar alinhada às capacidades que já possuímos.
Referências:
THE Creative Brain. Direção de David Eaglem. Netflix, 2019.
SANDER, Peter, 2012 – O que Steve Jobs Faria?